Trigo Brasil

A cotação do trigo brasileiro fechou o mês de novembro atingindo os maiores patamares de 2020 e com a maior alta nominal dos últimos anos.

O preço médio do trigo praticado no Rio Grande do Sul em novembro, ultrapassou os 106% de aumento na variação anual, saindo de R$ 38,54/saca que valia em nov/19, para R$ 79,49/saca na média mensal de novembro/20.

Em Santa Catarina, o índice aumentou 89,37%, chegando aos R$ 80,57/saca maior preço médio registrado nas regiões consultadas pela AF News.

No Paraná, maior produtor de trigo, a cotação do trigo para o mês passada ficou com a média mensal de R$ 75,80/saca registrando uma valorização de 64% na variação anual, já que em nov/19 o valor praticado era de R$ 46,22/saca.

Embora os índices de novembro tenham sido os maiores praticados em 2020, cujo ano registrou altas consecutivas do trigo desde o início de janeiro, os preços recuaram na reta final do mês e entrada de dezembro por uma série de fatores que serão abordados no decorrer do conteúdo.

Começando pelo mercado interno, a finalização da colheita de trigo do Brasil aqueceu a oferta do cereal, que mesmo tendo mais da metade da safra tendo sido comercializada de forma antecipada, ainda possui grande volume para ser negociada.

Desde o final de outubro que os compradores e vendedores vinham em uma queda de braço pra a derrubada dos preços, que costuma acontecer historicamente no período de colheita. Porém, fatores de alta como falta de matéria-prima para aquisição no Brasil e Argentina na entressafra, alta do trigo no mercado externo e dólar valorizado, deram suporte no aumento do cereal o ano todo.

Mas no decorrer de novembro, esses eventos foram sendo superados já que a colheita de trigo no Paraná e Rio Grande do Sul que deve totalizar 6,3 milhões de toneladas segundo a Conab, já haviam sido praticamente concluídas.

A vitória de Biden para a presidência dos EUA trouxe grande impacto no câmbio, que associada as expectativas promissoras sobre a vacina da Covid-19, fez o dólar cair 7% na variação mensal de novembro, passando de R$ 5,77 (30/10) para R$ 5,34 (30/11). Neste começo de dezembro a moeda americana cedeu ainda mais, sendo cotada a R$ 5,23 na quarta (02/12).

Todos esses fatores baixistas, atrelados ao distanciamento dos moinhos do mercado, que vendo um possível cenário de desvalorização, deixaram de fazer negócios esperando por melhores entradas, trouxeram desvalorização ao trigo, que encerrou com perdas não apenas no Brasil, mas nos principais players mundiais como mostra a tabela de paridade.

Por outro lado, grande parte da indústria infelizmente não se beneficiou dessa forte queda nopreço do trigo ao final de novembro, uma vez que este panorama estava bem distante de acontecer dias antes e por conta disso, realizaram suas aquisições de trigo já no começo da colheita, tendo em vista que estavam com baixos estoques da matéria-prima.

Esse fator acabou causando embaraços nos negócios dos derivados, já que os compradores da indústria, vendo a desvalorização do trigo, cobraram a redução nos preços das farinhas e outros derivados. Desta maneira, o mercado continua operando de forma cautelosa, buscando se orientar melhor sobre como proceder nas próximas compras, especialmente a partir de janeiro de 2021, já que neste final do ano maior parte dos moinhos fecham para férias coletivas e manutenção.

Trigo Argentina

Nas lavouras do país vizinho, a colheita de trigo atingiu os 31% até o dia 29 de novembro, com a projeção da produção se mantendo em 16,8 milhões de toneladas pela Bolsa de Cereales.

A maior parte das perdas da safra de trigo argentino 2020/21, que seu deu pelo déficit hídrico e geadas, se encontram nas regiões Central e Norte. O volume inicial esperado para ser colhido no começo da safra era de 21/22 milhões de tons, em uma área de plantio de 6,8 milhões de hectares. Porém, o plantio só foi realizado em 6,5 milhões de hectares, por conta das condições climáticas inadequadas e falta de umidade no solo.

O rendimento do trigo argentino está bem inferior este ano comparado ao ano de 2019 e isso também acarreta ainda mais prejuízos. De acordo com último relatório mensal do Ministério da Agricultura da Argentina, a seca deve reduzir em US$ 440 milhões exportações do cereal argentino, já que o corte maior do volume comercializável se dará para o trigo de exportação, que deverá ser de 10 milhões de tons neste próximo ciclo. Na safra passada, este montante foi de 12,2 milhões de tons.

As regiões de Córdoba e Santa Fé, seguem sendo as mais atingidas com a quebra da produção de trigo e são estimadas perdas de 30% da estimativa inicial na região Central da Argentina.

Ainda assim, os preços do trigo do país vizinho sofreram desvalorizaram na variação mensal de novembro para os contratos futuros, seguindo a movimentação do mercado externo. E, somente os índices praticados no mercado físico é que conseguiram se manter em alta.

Trigo Mercado Externo

Em novembro o preço do trigo registrou valores máximos em mais de 5 anos para o trigo norte-americano na Bolsa de Chicago, o fator se deu por conta de um grande volume de compras técnicas provocada pelos traders, após a grande especulação em relação as condições de seca na América do Sul e nos EUA, que poderia comprometer ainda mais a situação do trigo da safra 2020/21, tanto nos Estados Unidos, como na Argentina.

Aliás, os fatores climáticos foi o ponto principal do mercado no último mês, não apenas para o trigo, mas também no mercado de outras commodities agrícolas, como a soja e milho. A falta de chuvas em diversos polos produtores de trigo, vem causando grande incerteza de como será a produção mundial do cereal para o próximo ciclo.

Todo este cenário de déficit hídrico, como na Argentina, Rússia, Ucrânia e Estados Unidos, pode baixar novamente a produção mundial de trigo este ano e por conta disso, a cotação se manteve firme até boa parte do mês.

Com o USDA divulgando no dia 10/11, uma redução de 7% na oferta total de trigo mundial em seu relatório de oferta e demanda de grãos, a bolsa de Chicago registrou forte alta nos índices como reação, mas isso não durou muitos dias, uma vez que os estoques finais do trigo para o final da safra 2020/21 pouco foram alterados, com uma redução de somente 0,31%, ficando em 320,45 mil toneladas.

Deste modo, outros fatores foram considerados para a movimentação do mercado na CBOT no decorrer do mês, como eleições presidenciais dos EUA, demanda da China pelos produtos agrícolas norte-americanos, quadro das vendas líquidas e exportações, progresso do plantio do trigo de inverno nos EUA e principalmente atenções ao clima.

Por falar no progresso da safra, segundo o USDA em seu relatório publicado no dia 30/11, até o último domingo 92% das áreas de trigo haviam emergido, com adiantamento de 3% comparado ao ano passado e 1% de avanço ante a média de cinco safras. As condições de lavouras melhoraram, ficando acima até do esperado pelos analistas na última semana, com 46% do cereal estando em boas a excelentes condições.

Essa melhora nas qualificações do trigo norte-americano e a notícia da Rússia sobre o aumento da oferta de trigo para exportação mundial, que foi indigesta aos países concorrentes na reta final do mês de novembro, levaram a diminuição das cotações do trigo na Bolsa de Chicago, que fechou com queda de 0,55% a 3,05% no tipo hard com entregas para dez/20 a set/21 e desvalorização de 0,14% a 0,31% nos mesmos vencimentos para o trigo soft.

Disponível em: https://www.afnews.com.br/noticia.php?id=3426