Realizando um tour pela rota dos pampas úmidos da Argentina, observa-se a verde paisagem das lavouras criadas por um trigo que com a umidade certa começa a fechar o sulco. A previsão não é muito animadora para a primavera, já que a maioria dos relatórios avisa que as previsões climáticas serão de chuvas normais ou menores do que o normal em quase todo o território nacional, mas as projeções de produção ainda são bastante boas: com uma área plantada de 6,5 milhões de hectares, alguns se atrevem a pensar em uma produção recorde.

Enquanto isso, no mundo, o aquecimento global fica evidente em secas intensas que reduzem a produção e pressionam o preço, que atingiu o máximo nos últimos oito anos. No mercado de Chicago, o trigo com entrega em setembro/21 está sendo negociado em torno de US$ 280 por tonelada. Esse valor está em alta há meses, mas saltou dez dólares na semana passada após a publicação do relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que cortou a estimativa de produção em quatro dos oito principais países produtores: Estados Unidos (2,8%), Canadá (23,8%), Rússia (14,7) e Cazaquistão (3,8%). Isso reduz significativamente as estimativas de estoque e fez com que os preços saltassem.

Conforme explicou o consultor Pablo Adreani ao Clarín Rural, os Estados Unidos têm a menor produção em dez anos: 46,18 milhões de toneladas. “A produção de Trigo Durum de primavera caiu 42% em relação ao ano anterior, atingindo o menor nível em 30 anos. No caso do Trigo Durum, a produção chegou a 50% da safra anterior, o menor nível dos últimos 60 anos. A seca também afetou a produção de trigo branco no noroeste do Pacífico, com queda de 29% em relação ao ano anterior. No balanço global, os Estados Unidos reduziram as exportações totais de 27 para 23,81 milhões de toneladas”, detalha, e a seguir analisa a situação dos outros grandes players. O Canadá teve a menor produção dos últimos cinco anos com queda de 7,5 milhões de toneladas, de 31,5 para 24 milhões de toneladas,

“A produção mundial de trigo de 2021-22 deverá recuar 14,5 milhões de toneladas, para 776,91 milhões de toneladas, enquanto o consumo global permanece em um recorde de 786,7 milhões de toneladas”, resume Adreani.

Para o consultor e analista de mercado de trigo Leandro Pierbattisti, a situação dos estoques é ainda mais alarmante do que afirmam os principais estudos, já que levam em consideração a demanda e o estoque da China, que por suas enormes dimensões e devido ao elusividade de suas informações, tende a distorcer a análise. “Se a China fosse retirada, os estoques mundiais de trigo cairiam pela metade. Ninguém sabe ao certo o que acontece em um país onde o cinturão do trigo ultrapassa 4 mil quilômetros, muito menos as enchentes que ocorreram na principal região produtora da China. Em outras palavras, se você pegar os estoques dos dez maiores exportadores, eles estão em alerta há muito tempo, principalmente este ano", avisa, e ilustra com um exemplo que conhece bem pela proximidade com a indústria de moagem francesa".

Para enriquecer a observação, Pierbatistti explica que o trigo é consumido massivamente onde praticamente não é produzido, ou seja, entre 0 e 25 graus de latitude, e que nos últimos dez anos foi o percentual da produção mundial de trigo que se troca no mundo de 20 a 26 por cento. “Isso se explica pelo aumento incessante do consumo mundial, cuja progressão deve ser atendida exclusivamente pelas importações”, observou.

Nesse contexto, segundo Adreani, “a Argentina aparece como o Cisne Negro, com um recorde de produção estimado em 2021-22 de 23,5 milhões de toneladas e um saldo exportável recorde de 16 milhões de toneladas”.

Fonte: AF News

Disponível em: https://www.afnews.com.br/noticia.php?__dPosclick=PLn6F.Fw.8d33&id=4562&t=Trigo-Argentina-Por-que-o-preco-do-trigo-esta-em-seu-nivel-mais-alto-nos-ultimos-oito-anos&utm_campaign=Newsletters+-+di%C3%A1ria&utm_content=AF+News+-+Not%C3%ADcias+Agr%C3%ADcolas+%281%29&utm_medium=email&utm_source=EmailMarketing&utm_term=Farinha+de+Trigo%3A+moinhos+continuam+relatando+dificuldades+nos+neg%C3%B3cios+da+farinha+e+ajustes+de+pre%C3%A7os